03/04/2009

A juventude tem um novo paradigma: ser agente de mudança ou agente de direitos?

“Desde que era preciso uma revolução, as circunstâncias determinaram que a juventude a levasse a sério. Só a juventude tem a cólera e a angústia suficientes para o empreendimento: pureza suficiente para vencer.”
Jean Paul Sartre


Ainda não está absolutamente claro para a sociedade de que a juventude é uma condição social específica que por esse motivo necessita de políticas públicas especiais e tão específicas quanto tal condição social. No entanto, mesmo em meio desse processo de consolidação dos direitos da juventude perante a sociedade e o poder público através da implementação de políticas públicas de juventude, é importante entender que o desafio maior está em entender que somos os jovens e as jovens, os próprios agentes de mudança da estrutura social vigente, especialmente no que concernem as questões da própria juventude.

Considerar as vitórias da juventude é uma questão de justiça histórica das lutas travadas ao longo dos tempos. A Revolução cubana de 59; a vitória na Campanha “O Petróleo é nosso”, encampada pela UNE e movimentos sociais; a vitória na Campanha pelas “Diretas Já”; o impeachment de um Presidente da República, o “Fora Collor”; o Maio de 68 na França; o Festival de Woodstock e o Movimento Hippie, também em 68; são provas incontestes de que, estando organizada, a juventude tem força de mudar o mundo. No entanto, durante esse período histórico, a juventude teve inimigos comuns e claros: o cerceamento dos direitos democráticos; aqui no Brasil representado pela instauração da ditadura militar; passando pela necessidade de redemocratização até culminar na eleição e impeachment de um presidente.

Os inimigos na contemporaneidade não se mostram tão claramente e, somente quem está engajado nas causas sociais conseguem perceber a crueldade com que o inimigo não-declarado, o grande Capital e o imperialismo neoliberal, oprime, aliena e subjuga a juventude em prol dos próprios interesses. Portanto, é imprescindível que a juventude deixe de se isolar no reflexo do retrovisor da história e passe a tomar as rédeas do processo de inclusão da juventude na sociedade de forma plena. Sem esquecer o passado, o caminho se apresenta pela frente com muitos desafios. O primeiro deles é, sem dúvidas, repensar a forma como ainda levantamos as velhas bandeiras de luta e buscar novas formas de impulsionar a luta por elas e, principalmente, pelas novas e igualmente desafiadoras bandeiras de luta.

A política nacional de juventude, apresentada pela Secretaria Nacional de Juventude do Governo Lula, oferece uma análise dos fatores sócio-econômicos e demográficos que cercam a juventude brasileira e conclui que, diferente do que regulamenta a Organização das Nações Unidas, a parcela de juventude mais afetada no país é aquela entre 15 e 24 anos. Isso porque, entre outras coisas, é essa a parcela de população que está entrando no período de constituição de uma vida economicamente ativa. Essa mesma parcela, todavia, é a parcela mais afetada pela violência, pela baixa escolaridade, pela baixa qualificação para o mercado de trabalho e, conseqüentemente, afetada pela dificuldade de se inserir nesse mercado.

Então, como fazer com que essa juventude se integre e protagonize a mudança de sua realidade? A resposta está justamente nas pepejotas. As políticas públicas de juventude devem dar conta de, além de garantir os direitos constitucionais da juventude, fazer com que ela se sinta parte integrante da sociedade, criando mecanismos de participação efetiva e controle social, como o Conselho de Juventude por exemplo. Cabe ao poder público a compreensão de que o Conselho de Juventude não pode e nem deve ser paritário, por exemplo; tampouco a ocupação do conselho deve ser mecânica ou por indicação, sob pena de o conselho não ter o aval da juventude que ele representa, perdendo legitimidade. Ou, sendo o conselho paritário, refletir muito mais a correlação de forças políticas vitoriosa nas eleições do que a vontade da juventude do município, do estado ou do país.

Outra questão essencial é a ocupação efetiva dos espaços institucionais. A juventude é a parcela da população mais atingida pelas informações. É quem mais busca compreender o mundo à sua volta, inclusive pela necessidade de entender a sua participação, o seu lugar na sociedade. É bem verdade que a juventude é estigmatizada, carregando sobre si os títulos de estagnados, alienados, mas é importante que se perceba que a juventude é o reflexo da constituição social que a envolve, portanto, a imagem e semelhança da sociedade em que vive. Colocar sobre as costas da juventude esse estigma é uma maneira cruel e injusta de esconder os próprios erros. Por isso é necessário refutar a idéia de incapacidade da juventude ou o caminho é admitir que a própria sociedade é incapaz de preparar sua juventude para assumir desafios em qualquer que seja a frente.

Quem tem mais legitimidade para tratar e lutar contra uma condição social desfavorecedora do que os próprios desfavorecidos? Só quem tem fome sabe o quanto dói a fome; só os jovens e as jovens sabem da dificuldade de ser jovem. Por isso somente eles tem a propriedade e a vontade suficiente para combater e modificar sua realidade. É considerando isso que se faz necessária a compreensão de que, mais do que uma parcela da população diferenciada, com direitos diferenciados, a juventude é a única que tem capacidade e a energia para ocupar os espaços de poder, seja nos movimentos sociais, seja na institucionalidade, mas sempre na posição de agente de mudança e não só de direitos. Esse é o paradigma. Esse é o desafio para a juventude.

31/03/2009

:: Mágoa ::


Fiz-me embrulho
para presente
para ofertar-me aos amigos.
(Sempre fui o mesmo homem:
papel de seda, uma fita.)

Amei tanto, tanto mesmo:
só me chamaram poeta.
Sorri tanto, e só sabiam
que eu tinha dentes bonitos.

Guardei-me um dia no mar
chorei ondas pela praia.
Em mim nasceu uma flor
porque sempre fui jardim

Mágoa - Antonio Brasileiro